sexta-feira, 14 de junho de 2013

Antifragilidade - coisas que ganham com a desordem - livro de Nassim Taleb

O conceito de ANTIFRAGILIDADE
• “Fragilidade” é um conceito familiar. Coisas que quebram quando aplicamos força ou stress, relativamente pequenos são frágeis; – Xícaras de porcelana, peças de louça...
• Coisas que não se quebram facilmente são chamadas de resistentes ou robustas; – Uma panela de ferro, um bloco de concreto. ..
• Coisas que se moldam sob stress são ditas resilientes...
• Mas há coisas para as quais não temos nem uma palavra que as designe, nem um conceito
que as defina:
• ANTIFRAGILIDADE- propriedade de coisas que lucram com choques. Aprendem e crescem
com tensões (até certos limites);

Onde se esconde a antifragilidade?
• Esta propriedade está por trás de tudo que muda com o tempo:
• Evolução, cultura, ideias, revoluções, sistemas políticos, evolução tecnológica, sucesso econômico e cultural, sobrevivência corporativa, boas receitas ,digamos, ”canja de galinha ou steak ao molho tártaro com uma gota de conhaque", a ascensão das cidades,cultura,sistemas legais, florestas equatoriais, resistência de bactérias.
• Até mesmo nossa própria existência como espécie no planeta.

Antifragilidade e o que estamos perdendo na vida
• Como o conceito de antifragilidade está totalmente ausente de nosso vocabulário e (pior)de nossa consciência, não temos um nome para “metade do que é importante na vida”;
• Tudo que tem vida é antifrágil , e parece que o segredo dela é a antifragilidade;
• A “mãe natureza” é a maior escola de antifragilidade que existe; deveríamos aprender com ela;
• O teste do tempo é o maior teste; Se passou no teste do tempo, é antifrágil;
• Não só o que é vivo, mas todas as coisas complexas que as coisas vivas criam (sociedades, sistemas econômicos, empresas, etc.) têm, ou devem lidar com a antifragilidade de alguma forma;
• Isso é importante porque esse entendimento pode nos ajudar a abordar o que não podemos saber (e ainda lucrar com isso).
• Não entender a antifragilidade pode nos prejudicar. Pode até nos destruir;

Implicações da antifragilidade
• Qualquer coisa que tenha mais a ganhar do que a perder quando submetida a eventos (ou choques) randômicos é antifrágil. Do contrário, é frágil.
• Lembre-se: o tempo é o maior gerador de antifragilidade que há;
• Antifragilidade é a propriedade de todos os sistemas naturais (e complexos) que sobreviveram. Privá-los de volatilidade, aleatoriedade (randomness) e stress, fará mal a eles. Pode travá-los.
• Esta é a tragédia da modernidade: como acontece com pais neuróticos e superprotetores, os que tentam nos proteger construindo blindagens em torno de nós (educação, saúde, economia, ..) acabam nos causando o maior mal.
• Este ponto é difícil de aceitar, porque tendemos a não gostar de desordem e aleatoriedade. Então, tentamos remover o imprevisível e desordenado dos nossos sistemas (eliminar os choques). Isso produz o efeito contrário, pois remove nossa capacidade de lidar com os inevitáveis “cisnes negros” que vão aparecer (ver adiante).

Antifragilidade, complexidade e simplicidade
• Por causa de suas interconexões, o sistema mundial é complexo;
• Sistemas complexos são cheios de interdependências, difíceis de detectar e entender. Dizemos que são opacos.;
• Eles também produzem respostas não lineares. Quer dizer, se você, por exemplo, dobra a dose de um remédio, ou o número de empregados numa fábrica, não obtém o dobro do efeito inicial, mas muito mais ou muito menos;
• Um sistema complexo, ao contrário do que se pensa, não requer políticas intrincadas nem regulações complicadas . Quanto mais simples melhor. E mais: não precisamos entender esses sistemas para pô-los a trabalhar a nosso favor;
• “Less is more” e, geralmente, é mas efetivo também. Essas são lições práticas da antifragilidade;
• Por causa de sua opacidade, uma intervenção num sistema complexo como a economia global, ou o corpo humano- leva a consequências não previstas, seguida de desculpas sobre os aspectos não “previstos” das consequências, e uma nova intervenção para corrigir os efeitos secundários, levando a uma série explosiva de ramificações de respostas “não previstas” , cada uma pior que a precedente;
• Antifragilidade é sobre tomada de decisão- problem solving – em vários segmentos da vida - saúde, educação, política, inovação, gestão..- diante da opacidade dos sistemas complexos e do espectro dos “Black Swanns”,sempre à espreita.

Antifragilidade e inovação, ou: arrume encrenca!
• O processo de descoberta (discovery) - ou inovação, ou progresso tecnológico , depende de experimentação antifrágil, e exposição agressiva ao risco, não depende de educação formal.
• Tecnologia é o resultado da antifragilidade explorada por tomadores de risco, na forma de experimentação e tentativa e erro (“tinkering”) - o resto fica confinado nos camarins do teatro. Engenheiros e experimentadores desenvolvem coisas, mas a história é escrita por acadêmicos que não fazem justiça a eles, dando a entender que o conhecimento prático veio da academia. Não veio.
• Como se inova? "primeiro, tente arrumar encrenca. Encrenca séria, mas não terminal”;
• Nós tendemos a sobre reagir (over react) quando buscamos soluções para problemas que surgem;
• O excesso de energia liberado pela reação a esses problemas é o que produz inovação!
• Tudo tem a ver com a ideia de redundância, tão conhecida dos engenheiros. Redundância é ter alternativas para coisas que não podem dar errado. É por isso que você tem dois pulmões, rins.
• A natureza, por exemplo, gosta de fazer seguro extra para ela mesma. A ideia de redundância é ambígua porque parece ser “desperdício” se nada “não usual” acontece.
• O problema é que o não usual geralmente acontece (Fukushima). Antifragilidade e o viver melhor
• A ideia básica é evitar interferência de coisas que não entendemos, e aprendermos a explorar o imprevisível e o “não sabível” ;ou seja, fazer aquilo que não sabemos, atuar a nosso favor.
• O que ANTIFRAGILITY propõe é um road map para modificar os sistemas que construímos e deixar o simples-e natural-seguir seu curso.
• Tudo baseado em heurísticas - regras práticas, sem teoria por trás - que nos guiam na ação.
• Heurísticas muitas vezes são conhecimentos ancestrais que nos apontam a rota do que é antifrágil porque passaram no teste do tempo;
• As teorias das heurísticas são a experiência, se posso dizer assim. Rules of thumb.
• Simplesmente aquilo que sua avó chama de experiência. O frágil quebra com o tempo.

O “fragilista”
• Você não pode dizer com nenhum grau de confiança que certo evento ou choque seja mais provável de acontecer que outro, mas você pode estabelecer com muita confiança que um objeto ou estrutura é mais frágil que outra;
• Você pode até mesmo dizer qual estrutura vai durar mais.
• Algumas pessoas gostam de assumir a posição contrária - chamamos esse pessoal de “fragilistas”.
• O fragilista posa de especialista, e tende a confundir aquilo que não vê, ou o que não entende, com o não existente. Ele sempre dá conselhos baseados em “conhecimento positivo” :”faça isso. Aja assim, pois assim você estará construindo sucesso!”:
• O fragilista age sempre como se tivesse a certeza absoluta do que se deve fazer para adicionar coisas boas ao destino.
• O fragilista nunca se baseia “em conhecimento negativo”: “subtraia isso, retire aquilo”.
• Mas isso é um erro. Por quê? Porque sabemos melhor o que está errado do que o que está certo.
• Steve Jobs dizia que inovar é dizer não para 1000 outras ideias (bacanas).É eliminar.

A ilusão “Soviet-Harvard”
• O fragilista é vítima da ilusão “Soviet- Harvard”, que é a supervalorização do conhecimento científico.
• Resumindo, o fragilista (médico, econômico, planejador social, educador..) é alguém que faz você se engajar em práticas artificiais, nas quais os benefícios são pequenos e visíveis, e os efeitos colaterais são potencialmente severos e invisíveis. (Pense nisso, colega professor).
• Não chegamos onde estamos hoje graças a policy makers com mentalidade “SovietHarvard”- mas graças ao apetite por risco e aos erros de certo tipo de pessoas que devemos encorajar, proteger, e respeitar- os empreendedores, dos quais falaremos mais logo adiante.

A falsa segurança que os fragilistas nos dão
• Fomos fragilizando a economia, a saúde, a vida política, educação, quase tudo ... Por causa de nossa obsessão em suprimir a volatilidade ...
• A mentalidade Soviet-Harvard é um insulto à antifragilidade . Cria vulnerabilidades que nos poderão ser fatais.
• A modernidade tenta extrair sistematicamente as pessoas de sua ecologia aleatória. Tenta nos “turistificar”- eliminar o risco, o incerto ,o aleatório, o não sabido-transformando tudo em narrativas ingênuas e infantilizantes.
• A modernidade não é apenas o período pós-medieval, pós agrário, e pós-feudal histórico, tal como definido nos livros de história. É um pouco o espírito de uma época marcada pela racionalização (racionalismo ingênuo), a ideia de que a sociedade é compreensível, portanto, deve ser projetada por seres humanos. Arrogância!
• Tipos como Paul Samuelson, Paul Krugmann,Thomas Friedmann, Joseph Stiglitz lideram a confraria dos fragilistas econômicos, mas em todas as profissões há fragilistas de plantão.

Antifragilidade e ética
• O que nos leva ao maior fragilizador da sociedade atual, e ao grande gerador de crises - a ausência de skin in the game. O termo se refere a tomadores de decisão ou influenciadores, que dão opiniões à vontade mas não pagam pelos erros que cometem.
• Aqueles que se tornam antifrágeis às custas de outros, ganhando do lado bom da volatilidade e transferindo seu lado ruim para terceiros.
• No passado, pessoas com posição elevada e status, eram aquelas - e só aquelas - que tomavam riscos - ou seja, aqueles cujas ações tinham um lado negativo possível. Os heróis eram os que corriam riscos para benefício de outros; hoje ocorre o exato reverso.
Nunca na história, pessoas que não correm risco - isso é gente que não tem "skin in the game", exerceu tanto controle.
• A grande regra ética da antifragilidade é : ”Não obterás antifragilidade às custas da fragilidade de outros”.

O paradoxo da antifragilidade
• O mundo moderno está aumentando seu conhecimento tecnológico, mas as coisas estão cada vez mais imprevisíveis.
• Esse é o mundo que temos de dominar: quanto mais raro um evento, mais intratável ele é, e menos sabemos quão frequente sua ocorrência será (é por isso que ele é raro, gente!).
• Então, muitas coisas que ganham com a aleatoriedade devem estar dominando o mundo hoje - e coisas que sofrem dano com ela devem ter sumido. É exatamente o que ocorre.
• Temos a ilusão de que o mundo funciona graças a um design, resultado de algum programa acadêmico de pesquisa , e dinheiro de agências (burocráticas) de fomento; mas há evidência convincente - muito convincente!- de que isso é ilusão.

Antifragilidade, o empreendedor e a gratidão ao fracasso
• O mundo funciona melhor quando adere a princípios orgânicos e evolutivos. Princípios antifrágeis. Podemos pensar em negócios individuais como organismos; indústrias como espécies; e conglomerados de indústrias como a própria natureza.
• Veja o setor de restaurantes. Ao competir por nossa atenção (e apetite) só os melhores sobrevivem. Na verdade, há restaurantes indo à falência todo dia, mas a vulnerabilidade do restaurante individual, leva a uma indústria de restaurantes vibrante e estável ;
• Restaurantes fracassados ​​são tão importantes quanto os bem-sucedidos. Na verdade mais importantes, uma vez que haverá, necessariamente, muito mais fracassos do que sucessos. A indústria
aprende com as falhas ..
• É por esta razão que devemos comemorar empresários falidos: “a sociedade moderna deve tratar empreendedores arruinados da mesma forma que honra soldados mortos, talvez não com tanta honra, mas usando exatamente a mesma lógica". Seria justo termos um “dia do “empreendedor desconhecido”, com a seguinte mensagem: “a maioria de vocês vai fracassar, será desrespeitado, ficará pobre, mas somos muito gratos pelos riscos que estão correndo, e os sacrifícios que fazem para o bem do crescimento econômico do planeta; para tirar outros da pobreza. Você está na origem da nossa antifragilidade . Nosso país é muito grato a você”.

O complicado é simples, o complexo é que é complexo
• As engenhocas de engenharia que dão respostas simples são complicadas, mas não 'complexas' porque não têm interdependências.
• Você aperta um botão, digamos, um interruptor de luz, e obterá uma resposta exata, sem ambiguidade nas consequências (“até mesmo na Rússia”);
• Mas, com sistemas complexos as interdependências são fortes. Você precisa pensar em termos de ecologia: se você remover um animal específico vai interromper uma cadeia alimentar; os predadores vão morrer de fome e a presa vai crescer sem controle, causando complicações e uma série de efeitos em cascata... Consequências que eram difíceis de ver antes de agir.
• Da mesma forma, se você “desligar” um banco em Nova York, vai causar efeitos em cascata da Islândia à Mongólia. O sistema financeiro global é complexo.
• Por causa das interdependências que a tecnologia torna possíveis, vivemos num mar de complexidade crescente. O desafio é fazer a coisa certa – e ser feliz- num mundo assim; um mundo que não entendemos e não podemos prever;

Como a modernidade fragiliza os sistemas complexos
• Sistemas complexos não gostam de (e resistem a) projetos top-down; interferência de cima para baixo. Não podem ser controlados a partir do exterior.
• Pensamos que podemos manipular esses sistemas (baseados em alguma teoria), mas isso acabará por provar-se errado, e os resultados serão quase sempre desastrosos .
• Interferir em sistemas complexos de forma top-down e tentar desembaraçar a aleatoriedade,
perturba-os de tal modo que sua antifragilidade some, e eles tornam-se frágeis.
• Sistemas complexos tendem a desenvolver reações em cascata, e efeitos exponenciais que diminuem sua previsibilidade até eliminá-la, causando Black Swanns.
• A única maneira de trabalhar com sistemas complexos é a partir de dentro deles, fazendo pequenos ajustes (tal como a evolução faz).
• Os ajustes corretos nós só aprendemos por tentativa e erro (assim como faz a evolução). Pequenos ajustes reduzem a probabilidade de perturbar o sistema totalmente.
• Muitas coisas, como a sociedade, a atividades econômica ,os mercados e o comportamento cultural, crescem por conta própria, e chegam a algum tipo de auto-organização.
• Elas lembram o biológico porque, de certa forma, se multiplicam e replicam; pense em rumores, ideias, tecnologias e empresas.
• Essas coisas “man made” estão mais próximas “de um gato que de uma máquina de lavar”, mas tendem a ser confundidos com máquinas de lavar pelos fragilistas.

Antifragilidade e a impossibilidade de saber o que virá 
• Por causa da complexidade, o evento raro e de grandes consequências (Black Swann) é incomputável no sentido matemático. É não sabível. Quanto mais raro, mais não detectável.
• É de grande valia que - graças à sua antifragilidade - a “mãe natureza", seja a melhor expert em eventos raros, a melhor gestora de Black Swanns;
• O perigo que eles representam é silencioso, inexorável e descontínuo. Black Swanns aparecem abruptamente após longos períodos de calma, talvez nos momentos em que esquecemos de sua existência. É aí que chegam.
• Aquilo que os livros de história apresentam(a posteriori!) como narrativas bem encadeadas, com causas e feitos precisos, nos dá a ilusão de que tudo era previsível.
• Essa é uma das característica mais nefastas dos Black Swanns - eles nos dão a ilusão de que poderíamos tê-los previsto (mas são incomputáveis, lembrem-se! ).Quase tudo na história é assim.
• O viés humano segundo o qual “isso era previsível” (viés que só se manifesta depois do fato!) - gera fragilidade, pois nos impede de aprender.

A antifragilidade das coisas vivas
• O exemplo mais simples de um sistema antifrágil é um organismo vivo.
• Corpos ficam mais fortes quando lidam com stress periódico, e a falta dele tende a levar à degeneração e atrofia. Músculos perdem tônus. Ossos manifestam osteoporose.
• Um bom exemplo é a restrição calórica do jejum. As antigas religiões há muito compreenderam os benefícios dessas práticas ,mas a ciência moderna só agora está começando a chegar perto disso.
• Algumas toxinas, quando ingeridas em pequenas doses, não só induzem tolerância, mas ainda
atuam como um tipo de medicamento - processo chamado de  hormese, uma palavra inventada por farmacologistas - É quando uma pequena dose de uma substância nociva é realmente benéfica para o organismo, agindo como um remédio ... Hormese era bem conhecida pelos antigos ... Mas só em 1888 foi "cientificamente" descrita por um toxicologista alemão.
• Há uma razão para que os corpos dos seres vivos sejam antifrágeis - é porque eles foram projetados pela evolução para serem assim.
– Dito de outra forma, aqueles organismos cujos corpos foram reforçadas a partir de exposição ao estresse, foram capazes de sobreviver e reproduzir-se de forma mais eficaz do que aqueles que não foram, e assim espalhar seus genes antifrágeis no pool genético.

Antifragilidade e saúde-Iatrogenia
• Como o corpo obtém informação sobre o ambiente? Não é através de seu aparato lógico, sua inteligência e habilidade de raciocinar, computar e calcular - mas através do stress, via hormônios e outros mensageiros que ainda não descobrimos.
• Como sistema antifrágil, o corpo humano foi projetado para curar a si mesmo (pelo menos até certo ponto) e, na maioria das vezes, faz isso muito bem, embora às vezes requeira um pouco de tempo (e paciência);
• Na maior parte das vezes, o corpo deve ser deixado para fazer o trabalho de cura em si próprio.
• Sempre que se interfere com um sistema complexo, mesmo que possa ajudá-lo em um aspecto, é possível (até provável) que vá gerar algum efeito colateral involuntário (e negativo) a ponto de prejudicar o sistema mais do que ajudá-lo a longo prazo.
• O nome para o dano (geralmente escondido ou atrasado) de intervenção em excesso é iatrogenia; literalmente: “dano causado por quem tenta curar”.
• Nos casos em que você não está muito doente, as chances de que efeitos colaterais negativos vão superar os benefícios são altas e, por isso, é apenas nestes casos, que você deve permitir que seu corpo cure a si próprio.

Mais iatrogenia
• Historicamente, iatrogenias têm sido um problema na medicina;
• Até o surgimento da penicilina, a medicina teve um saldo amplamente negativo. Ir ao médico aumentava sua chance de morrer .Médicos sempre acham que “tem de fazer alguma coisa”.
• Mesmo hoje, iatrogenias continuam a ser um problema sério. O fenômeno está sendo cada vez mais reconhecida dentro da profissão médica;
• Erro médico atualmente mata entre três e dez vezes mais que acidentes de carro nos Estados Unidos.
• É sabido que o dano produzido por médicos, não incluindo infecções hospitalares, leva a mais mortes que qualquer tipo de câncer.
• Nunca pergunte ao médico o que você deve fazer. Pergunte o que ele faria se estivesse em seu lugar. Você ficaria surpreso com a diferença.
• A profissão médica não é a única onde a iatrogenia mostra a cara. Na verdade, ela será encontrada onde quer que intervenções em sistemas complexos seja praticada.
• Isso inclui "ciência, política, economia, planejamento urbano, educação e vários outros domínios..“.

Antifragilidade e as consequências da ignorância
• Remover pequenos choques em um sistema complexo pode criar estabilidade por um tempo, mas o torna vulnerável a grandes choques no longo prazo.
• Ao contrário dos pequenos choques (que refinam e melhoram o sistema), os grandes choques são geralmente prejudiciais, e podem destruí-lo.
• Assim, a remoção dos pequenos choques de um sistema complexo não cria estabilidade, mas a ilusão de estabilidade. Na economia, por exemplo, você tem longos períodos de estabilidade seguido por acidentes graves.
• Essa lição, sabemos de cor, mas não aprendemos.

Antifragilidade,tecnologia e inovação
• Há uma crença generalizada de que tecnologia e inovação fluem diretamente de descoberta científica. Em outras palavras, acredita-se que a direção das conquista tecnológicas é do teórico para o prático
• Na verdade, a inovação tecnológica, hoje como sempre, vem de pessoas práticas ; engenheiros experimentando (“tinkering”) com artefatos, e melhorando-os.
• Vem de ideias concretas para resolver problemas práticos.
• Há exceções (o projeto Manhattan), mas a regra vale na maioria dos casos.
• Considere a arquitetura antiga. Há uma tendência a acreditarmos que a geometria euclidiana a
viabilizou. A geometria teria vindo primeiro, e as magníficas catedrais e outras construções depois.
• Não foi isso que aconteceu. O que aconteceu foi a aplicação de heurísticas - o tipo de conhecimento prático que passa de um mestre para seus aprendizes.
• Alguém que “sabe fazer” ensina a quem quer aprender a fazer.
• Mesmo os aquedutos romanos, maravilhosos, parecem ter sido criado a partir do know-how prático, não de matemática aplicada.
• Na Idade Média, arquitetura e engenharia ainda avançavam por meio da experimentação prática, ao invés da aplicação de teoria.
• Antes do século XIII não mais do que cinco pessoas em toda a Europa sabiam como fazer uma conta de dividir.

Dos aquedutos romanos à revolução industrial
• Construtores podiam inferir a resistência dos materiais sem equações . Faziam edifícios (que em sua maior parte ainda estão de pé) graças à heurísticas experimentais; pequenos truques e regras práticas ... Por exemplo, um triângulo era visualizado como a cabeça de um cavalo.
• A maioria das inovações da Revolução Industrial não foi feita por cientistas, mas por amadores batalhando em suas oficinas .
• Isso inclui até as invenções mais notáveis ​​da época: "... a máquina a vapor, o artefato que encarna a Revolução Industrial , surgiu de tecnologia pré-existente, criada por iletrados. Homens que aplicaram bom senso prático e intuição para lidar com problemas que os cercavam, e cujas soluções trariam recompensa econômica evidente;
• Os avanços na tecnologia têxtil não devem nada à ciência. Foram desenvolvimentos empíricos baseados em tentativa e erro; experimentação de artesãos que estavam tentando melhorar a produtividade e, assim, os lucros de suas fábricas “.

Antifragilidade e inovação hoje
• Ainda hoje, na era da grande ciência, a tendência em inovação continua a favorecer a experimentação-”tinkering”- e tentativa e erro.
• O período do pós-guerra, que viu nascer um grande número de terapias eficazes "não foi informado por uma visão científica importante”. Elas vieram exatamente do oposto - o entendimento por parte de médicos e cientistas, de que não era necessário entender em detalhes o que estava errado, mas que a química sintética, cegamente e aleatoriamente, iria produzir remédios que haviam escapado aos médicos durante séculos" .
• A teoria nasceu da cura ,não o oposto.

O computador pessoal e a antifragilidade
• Quando o computador pessoal foi inventado, tinha poucos usos práticos- teclado, mouse e monitor só apareceram depois que o computador decolou por causa de sua aptidão para processamento de texto. Em seguida, a Internet entrou em cena (na verdade, foi inventada com um fim completamente diferente ,e o resultado é o que temos hoje);
• O resultado: "embora a ciência seja de algum uso ao longo do caminho (a tecnologia do computador depende de ciência na maioria de seus aspectos), em nenhum ponto a ciência acadêmica serviu na definição de sua direção. Serviu sim, como escrava de descobertas casuais em ambiente opaco .O processo permaneceu auto-dirigido e imprevisível a cada passo “;
• Tudo isso mostra que o progresso tecnológico é (na sua maior parte) um processo de baixo para cima (bottom-up) que avança por experimentação prática, muito parecido com a evolução. Não é um fenômeno top-down baseado em teoria orientadora .
• Isso tem implicações sobre como o governo deve financiar a inovação, e também como os investidores privados devem investir nela;

Como o governo deve financiar a inovação?
• Muito do financiamento dos governos à inovação é canalizado para a ciência pura e pesquisa dirigida .No entanto, devia ser orientado para formas práticas de engenharia e experimentação aberta ;
• Tem que haver uma forma de incentivar o que funciona . Inovações não são óbvias, de início elas flutuam, escorregam, adotam variantes - e é preciso ter a habilidade de um flanêur para capturar as oportunidades que surgem. Não se pode ficar trancado em moldes burocráticos;
• É visível que o dinheiro deveria ir para “tinkerers” agressivos ...
• O conselho é o mesmo para investidores privados. Como você nunca sabe de onde virá a
próxima inovação, deve espalhar seus recursos em vários empreendimentos. Não uma
grande ideia “matadora”, mas várias ideias promissoras.

Antifragildade e as empresas-qual o papel do governo?
• O governo deve garantir que nenhuma empresa fique tão grande “que não possa quebrar“ (“too big to fail”);
• Agindo assim, ele não estaria apenas protegendo a sociedade, mas também protegendo as empresas de si mesmas;
• Empresas ficam mais frágeis à medida que crescem. Isto é contrário à opinião dominante, que vê mega- fusões como o caminho a seguir (devido aos benefícios das economias de escala) .
• É iatrogenia. As desvantagens do tamanho superam os benefícios. Para começar, sempre que uma empresa cresce o suficiente para que sua gestão seja separada de sua propriedade, ela vai ter problemas, pois os interesses dos que comandam o show são diferentes do que é bom para a própria empresa.
• Os governos tendem a impor políticas que fortalecem as grandes corporações em detrimento das empresas menores. O contrário do que deveria fazer.

Os bancos e a economia
• Se algo demonstra que interferir em um sistema complexo tentando remover choques e aleatoriedades leva ao desastre, é a economia.
• “Tenta eliminar o “ciclo de negócio”-eliminar altos e baixos na economia, criando um sistema mais dócil- conduz à mãe de todas as fragilidades. Assim como pequenos incêndios aqui e ali, são bons bom para consumir material inflamável numa floresta antes que se acumule, um pouco de dano aqui e ali na economia, serve para expulsar logo as empresas vulneráveis. ​​
• “Logo” quer dizer cedo o suficiente para que "falhem rápido" (fail fast) e possam começar de novo, minimizando danos de longo prazo ao sistema.
• Sempre garantir que os erros e falhas ficarão confinados, impedidos de ter efeitos em cascata.
• Bons sistemas são configurados para “errar pequeno”. Ninguém pode arrastar outro por ter errado. Haverá muitos pequenos erros, que trabalharão para preservar o sistema.
• Small is beautiful.
• O tamanho das empresas (especialmente bancos) é apenas uma parte do problema. A outra parte da equação tem a ver com a nossa tendência de interferir com o ciclo de negócios

Os “fragilistas” Alan Greenspan e Gordon Brown
• Não é preciso olhar mais longe do que a mais recente crise econômica: "a principal fonte da crise que começou em 2007 foi a tentativa iatrogênica do überfragilista Alan Greenspan - o maior iatrogenista de todos os tempos entre os economistas- de eliminar os ciclos de altos e baixos da atividade econômica. “Foi isso que fez os riscos se esconderem debaixo do tapete e se acumularem lá, até que explodiram a economia ...”;
• O intervencionismo ingênuo também foi aplicado pelo governo do Reino Unido do fragilista Gordon Brown, um admirador do Iluminismo, cuja grande missão era 'eliminar' o ciclo de negócios.

Como os economistas estão errando e errando
• Os erros econômicos têm uma causa mais fundamental: não-praticantes - ou seja, economistas acadêmicos - estão sendo convidados a tomar decisões econômicas para nós, e são chamados para nos oferecerem suas previsões
• Há dois problemas com isso. Para começar, economistas acadêmicos estão enamorados por teorias. Na verdade, respeitam mais as suas do que as teorias testadas pelo tempo e experiência prática.
• O problema é que as teorias são muito mais frágeis do que a prática e, por isso, muitas vezes levam a desastres;

Tem que ter “skin in the game”
• Economistas acadêmicos poderiam agir muito melhor se realmente tivessem “skin in the game”. Isto é, se realmente corressem algum risco se suas teorias não funcionassem .
• Mas, infelizmente, não é assim que é. Eles estão em suas torres de marfim com seus títulos de professor titular - seja em universidades ou no governo - e são pouco afetados pelo que acontece abaixo deles;
• Além do mais, são muito hábeis em distorcer a verdade, particularmente distorcer o passado. Por isso, quando suas teorias levam ao desastre, podem manipular as coisas para fazer com que pareça que não foi culpa deles, e podem até dizer que previram o que iria acontecer.

O caso do “fragilista” Joseph Stiglitz
• "Joseph Stiglitz e mais dois colegas(os irmãos Orszag ,Peter e Jonathan), olharam para a Fannie Mae
e avaliaram, num relatório, que "com base na experiência histórica, o risco para o governo de um potencial não-pagamento por parte da empresa é efetivamente zero. “...
• A probabilidade era tão pequena que era difícil detectar;
• Declarações como estas refletem o fato que Stiglitz (e outros economistas acadêmicos como ele), não têm noção de fragilidade nos sistemas econômicos ;
• O que é pior, declarações assim convidam outras pessoas a cair na armadilha, incentiva comportamentos que realmente precipitam acidentes;
• Será que Stiglitz admitiu sua parcela de culpa na crise de 2007? Nada. Ele escreveu um livro explicando como viu o tempo todo a crise chegando : "o ponto culminante é que Stiglitz escreve em 2010:”eu-disse-que-seria-assim” onde afirma ter "previsto" a crise que começou em 2007-2008 .. .
• Assim, o mesmo economista que causou o problema, “pósviu” (o contrário de “previu”) a crise, e construiu uma teoria sobre o que aconteceu.

Antifragilidade, vieses humanos e “heróis ao contrário”
• É que na verdade Stiglitz enganou a si mesmo, convencendo-se que viu o acidente chegando;
• E a razão pela qual ele foi capaz de enganar a si mesmo, é que não perdeu nada com o acidente porque não tinha “skin in the game”;
• Se tivesse, teria notado que errou: "um acadêmico não é projetado para lembrar as suas opiniões porque ele não corre risco por elas ... O ponto central: se Stiglitz fosse um homem de negócios, investindo seu próprio dinheiro, ele teria quebrado.“
• A ausência de “skin in the game” provoca transferência de fragilidade de uma parte para outra, e não é um problema que se limita a economistas.
• Pelo contrário, é um problema geral e grave que atinge muitas profissões - "os efeitos das transferências de fragilidade estão se tornando mais agudos. A modernidade está construindo mais e mais heróis “ao contrário”;

O que fazer contra os falsos profetas
• Assim, muitas profissões- a maioria decorrente da modernidade- tornam-se mais antifrágeis às custas da nossa fragilidade: funcionários públicos, pesquisadores acadêmicos, jornalistas formadores de opinião, o establishment médico, a Big Pharma, e muitos mais;
• O problema é particularmente agudo no mundo moderno devido à especialização que temos na sociedade (o que efetivamente separa os tomadores de decisão dos efeitos de suas decisões) ;
• No entanto, isso não significa que somos impotentes para minimizar o problema - muitas medidas simples podem e devem ser tomadas aqui.
• Basicamente, tudo se resume ao seguinte: organizar as coisas de tal forma que os tomadores de decisão sejam colocados numa posição em que sintam as consequências de suas decisões e ações;
• Só confiar neles nesse caso. No caso dos economistas, por exemplo, só devemos acreditar naqueles que têm carteiras de investimentos coerentes com suas opiniões;
• Quem decide uma guerra precisa ter pelo menos um descendente (filho ou neto) exposto a possibilidade de ir combater;
• Para prevenir que um cargo público seja usado como meio para um fim, uma solução simples mas bastante drástica é a seguinte: quem vai para o serviço público não pode , posteriormente, ganhar mais em qualquer atividade privada do que o mais bem pago funcionário público.

Recomendações para melhorar a política
• Em um nível geral, a política deve ser tratada como sistema complexo: a partir de dentro, confiando mais em ajustes dos sistemas tradicionais do que em grandes teorias;
• Pequenas experiências de tentativa e erro (na verdade, ajustes) nos sistemas sociais, juntamente com o respeito às heurísticas da tradição.
• Como regra geral, a decisão política deve ser mantida local, ao contrário de decisões vindas de um comando central;
• A Suíça funciona assim. É o país mais antifrágil do planeta.
• Isso é muito de acordo com a abordagem “de baixo para cima” para sistemas complexos (que é uma abordagem justificado pela experiência, não é de natureza teórica);

Antifragilidade - como viver mesmo em um mundo imprevisível?
• Vimos como o conceito de antifragilidade entra nos domínios do corpo, tecnologia, negócios, economia, política. No entanto, existem muitos mais domínios em que o conceito desempenha um papel.
• São exemplos todos os sistemas complexos e fenômenos em que possamos pensar, e toca praticamente todos os aspectos da vida.
• O truque é não perder tempo tentando melhorar nossa capacidade de prever, ou tentar tornar o mundo mais previsível. Ambas as estratégias estão fadados ao fracasso.
• Podemos utilizar o conceito de antifragilidade para nos ajudar a navegar nosso caminho através do imprevisível .

Construindo a antifragilidade
• Um sistema será antifrágil na medida em que o dano que experimenta a partir de eventos aleatórios,
é superado pelo benefício que experimenta com eles;
• Ao colocar a nossa fé nas coisas que embutem mais benefício do que dano tornamo-nos antifrágeis;
• O benefício oculto da antifragilidade é que você não precisa saber o que vai acontecer para se dar bem. Você pode estar errado e ter sucesso .
• Pode ser estúpido e antifrágil- na verdade é melhor ser assim do que ser inteligente e frágil-vulnerável aos Black Swanns;
• Parece muito fácil e simples, mas essa ideia pode ser explorada infinitamente.
• Não tomar nenhum risco onde o resultado do fracasso seja desastroso, e tomar grandes riscos (ou pelo menos muitos riscos pequenos) onde a falha seria relativamente inofensiva, e ganhos poderiam ser muito grandes;
• Se você colocar 90% do seu dinheiro em algo chamado “depósito de numerário de valor , e 10 % em títulos maximamente arriscados, você não pode perder mais de 10 %, enquanto está exposto a ganhos enormes. Alguém com 100% nos chamados “ títulos médios” corre risco de ruína total.
• Incerteza média não existe. Quem usa a curva de Gauss-distribuição normal de probabilidades- para computar riscos está cometendo fraude.

Não se comprometa com um plano,ou: remova o frágil, não tente adicionar ao destino
• Uma última maneira de aumentar a sua antifragilidade é nunca ficar encurralado em um canto. Isto é, sempre ter certeza de que você tem opções;
• Vá com o que você sabe que funciona, mas sempre conceda-se a opção de mudar de curso se aparecer uma oportunidade .
• Isto se chama : opcionalidade. Ter a opção de fazer uma coisa, mas não a obrigação de fazê-la.
• Uma maneira de conseguir opcionalidade é nunca ter um plano ou, pelo menos, nunca se comprometer com um plano, pois isso o deixa incapaz de mudar de rumo se uma oportunidade imprevista surgir (conselho que pode ser aplicado para as empresas também).
• A maneira certa não é, como fazemos, imaginar um futuro e ir adicionando coisas a partir do presente – para “chegar lá". É o contrário.
• O aprendizado da antifragilidade é por “via negativa ”- ou seja: tirando coisas, simplificando. Você subtrai o frágil, não tenta adicionar ao destino.
• Tecnologia não cria o futuro. O melhor dela é remover o frágil, o antinatural, o que aliena.
• Nós, humanos, sabemos muito mais sobre o errado do que sobre o certo. O conhecimento negativo (o que dá errado) é muito mais antifrágil do que conhecimento sobre o que dá certo.

Fonte: site Clemente Nóbrega

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